Pesquisadora, com dois pós-doutorados e livre docente em Ciências
da Comunicação. Sentada bem na primeira fileira do auditório do ICJ, Clotilde
Perez se mostrava bastante discreta. Concentrada em
seu celular, a professora esperava o momento de começar a palestra “Tendências
de Comportamento e Consumo”. Muvuqueiros de diversos cursos e diversas
faculdades, também aguardavam ansiosos. Depois do vídeo de apresentação e da
animação (seja em forma de k-pop, sertanejo ou funk) dos apresentadores Natália
Costa, Rômulo Baía e Mariana Almeida, chegou a hora da palestra. Hora também em
que a pesquisadora abriu a Muvuca na Cumbuca 2013 explicando para nós tudo
sobre “Tendências”.
Natália Costa e Rômulo Baía voltaram a abrir a Muvuca 2013, ao lado da estreante Mariana Almeida
O MUNDO EM QUE VIVEMOS
“O ritmo, o escopo e a natureza são as características do
nosso mundo”, falou Clotilde, dando todo o contexto de qual mundo vivemos para
então poder falar de tendências. Segundo ela, vivemos o fim das grandes
narrativas, como é o caso das tradições e a ideia de “lugar” mudou
completamente, pois não se trata mais de algo físico. “Vivemos o momento de
desterritorialização”, disse a pesquisadora, dando o exemplo até de algumas
propagandas, que mostram os modelos em fundos brancos, dando a ideia de que
tudo pode ser em qualquer lugar.
Buscando em teorias de autores como Bauman e Lipovestsky,
Clotilde Perez mostrou que o ser humano não quer mais seguir regras, quer criar
suas próprias regras, escolhendo seus aspectos de identidade. Para a
professora, nossos conceitos estão sendo distorcidos ou tensionados. O ser
humano agora tem múltiplas personalidades. O exemplo usado foi o do filme
Shrek, onde o herói reúne todas as características do anti-herói.
ONDE O MARKETING, A PUBLICIDADE E O CONSUMO SE ENCAIXAM
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Clotilde Perez falando sobre Tendências |
Os produtos de comunicação refletem a sociedade em que
vivemos hoje, como contou Clotilde na palestra. Para ela, uma pirâmide de desejos
não faz mais sentido, pois as pessoas querem tudo, ao mesmo tempo. “Nós
morremos, somos falíveis e, por isso, somos incompletos. Então buscamos a
completude”, disse a professora. Essa completude seria procurada em ideologias,
pessoas, carreira e nos bens de consumo e a publicidade tem papel fundamental
no despertar desses desejos, mostrou ela.
Entretanto, a palestra mostrou que muitos fatores interferem
na certeza do que um consumidor deseja. “Identidades plurais, trânsito
permanente, cultura digital, redes sociais e fluidez” foram apenas alguns dos
exemplos citados por Clotilde. De acordo ela, isso ocasiona a era da “Hiperpublicidade”,
um conceito mais abrangente do que estamos fazendo hoje em publicidade. Nele, “a
marca deve refletir as pessoas”, disse a pesquisadora.
O consumo, segundo Clotilde, “não é apenas a compra, é um
processo de busca”, onde o consumidor desenvolve sistemas de significado. Ela
cita Canclíni quando o mesmo passa a ideia de que consumo é cidadania. “É por
meio dele que escolhemos e aprendemos quem somos”, afirma.
A SOLUÇÃO É SE LIGAR NAS TENDÊNCIAS
Um dos caminhos possíveis apontado por Clotilde para se
adaptar a essa época de um mundo fluido e um consumidor mais fluido ainda é
entender as tendências. “Tendências são valores sociais, com eles,
identificamos os valores da sociedade”, diz a pesquisadora.
Ela mostrou que, por gerações, tentamos entender o futuro
como se ele fosse algo já definido. “Agora não é mais. Nós construímos o nosso futuro,
pois como ele é incerto, foi substituído pelo presente”, afirma. É nesse
presente que precisamos entender as tendências, pois elas são construídas no
aqui e agora. De acordo com a professora, tendências geram manifestações sociais
que mudam muito rápido e que estão diretamente ligadas ao contexto em que
vivemos, no caso, um mundo abalado por conflitos e também por avanços, o que
faz parte da construção da nossa identidade.
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Auditório do ICJ lotado de muvuqueiros |
Como contou Clotilde, tendências estão inter-relacionadas. “Uma
manifestação faz parte de várias tendências”, diferencia e cita como exemplo, o
“My Way”, uma manifestação causada pela tendência de “fazer do meu jeito”. A
origem dessa manifestação veio da reação do indivíduo à massificação, dando
espaço para a criatividade, compartilhamento e autoria.
E foi assim, mostrando que tendências estão sempre em
movimento e nos dando a dica de como e porquê acompanhá-las, já que fazem parte
de nossa vida, que Clotilde encerrou a sua palestra e o primeiro dia da Muvuca
na Cumbuca 2013, levando para a casa um kit especial preparado pela
(Des)organização e deixando a cabeça dos muvuqueiros fervilhando de ideias.
Só o primeiro dia. Neste dia 9, a palestra será com Érico
Assis do site Omelete. Perder não é uma opção. É a partir das 19h, no ICJ.
Fotos: Antônio Macêdo / Texto: Felipe Jailson
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