Quando você diz que quer ser jornalista, seus pais geralmente saem
gritando pra todo mundo que o filho deles vai aparecer na Globo. E é com muito
bom humor que o blogueiro e jornalista Duda Rangel derruba essa lenda do “glamour” da profissão. Em entrevista exclusiva, o criador do blog Desilusões Perdidas conta suas
experiências, fazendo qualquer mortal, comunicólogo ou não, rir muito com a
tragicomédia que é a vida de um jornalista. Dá uma olhadinha no que o Duda
falou pra gente.
Muvuca: Você sempre quis ser um jornalista?
Quando você decidiu que iria seguir essa carreira?
Duda Rangel: Meu interesse em ser jornalista
começou ainda na infância, quando eu curtia apresentar retrospectivas de fim de
ano para minha família. Em uma bancada improvisada lá de casa, com um terno
emprestado de meu pai, bermuda, chinelos e óculos (para dar um ar de
seriedade), eu comentava as notícias de destaque do ano. Meus parentes, de saco
cheio, acompanhavam a retrospectiva. O único que me apoiava era meu avô, que
sempre acreditou que eu seria um jornalista rico, famoso e bem-sucedido com as
mulheres. Morreu antes de se decepcionar com suas previsões furadas.
Muvuca: O que te fez criar um blog? E por que
mostrar um lado não glamoroso da profissão?
Duda: Como trabalhava muito, minha mulher me
trocou por outro cara. Pouco depois, perdi meu emprego no jornal. Tudo
isso foi um grande choque para mim. Pensei em fazer terapia, mas, se jornalista
empregado já não tem dinheiro para isso, imagine um jornalista desempregado?
Tentei me suicidar, mas também fracassei. Quando já estava sem esperanças do
que fazer, um amigo me sugeriu escrever um blog, como atividade terapêutica.
Achei legal a idéia (peço desculpas, mas ainda não adotei a nova ortografia por
birra) e comecei o blog, em janeiro de 2009.
Em meus textos,
gosto de mostrar a realidade do jornalismo, que é uma profissão apaixonante,
mas que exige muita dedicação de nós para lidar com os obstáculos e vencê-los.
Procuro mostrar o lado bom e o lado ruim do jornalismo, com uma linguagem
bem-humorada. É legal para o jornalista ter a capacidade de rir da própria
desgraça.
Muvuca: Como você consegue criar novos textos
com conteúdos tão diversificados e que prendem o seu leitor e ainda atraem
novos seguidores do seu blog?
Duda: Os textos, embora ficcionais, são
baseados em experiências vividas por mim, em histórias que conheço de amigos,
em histórias que ouvi alguém contar. Apesar de discutir temas mais amplos do
jornalismo, como ética e obrigatoriedade do diploma, gosto de falar
principalmente do lado humano do jornalista, seus desejos, perrengues,
angústias. A questão central é provocar a identificação do leitor. Se ele se
identifica com os textos, vai voltar outras vezes ao blog e indicá-lo aos
amigos (e inimigos). As redes sociais, como o Facebook e o Twitter, ajudam
bastante nesta divulgação e conquista de novos seguidores.
Muvuca: Nós sabemos que essa revolução
tecnológica veio para ajudar e simplificar o processo comunicacional. Porém,
você acha que essas ferramentas tecnológicas prejudicam, de alguma forma, o
exercício do jornalismo tradicional? Qual a sua opinião?
Duda: Sou contra o jornalista ficar refém
apenas das novas ferramentas tecnológicas e deixar de ir à rua apurar uma
matéria, por exemplo. Não acho legal o repórter passar grande parte do dia
preso em uma redação, com a bunda quadrada de tanto ficar sentado em frente a
um computador, procurando notícias no Twitter e checando informação no Google.
Mas é inegável o valor das novas tecnologias como forma de facilitar a produção
de conteúdo, de divulgação de informações etc.
Muvuca: O que você acha da nova cultura digital,
onde o público também a produz e divulga informação ao invés de só recebê-la?
Duda: Acho muito interessante que mais gente
produza informação em vez de apenas ser um consumidor passivo. Quando digo
produzir, me refiro a criar algo mesmo, e não apenas compilar notícias de
outros sites. O importante, contudo, é que esta informação seja bem apurada e
confiável. Os bons comunicadores sempre terão espaço e serão respeitados pelo
público, independentemente de serem jornalistas diplomados. Cabe ao leitor
perceber o que é bom e confiável e o que não é.
Muvuca: Você acha que todo esse processo está
criando uma nova forma de fazer jornalismo?
Duda: Acredito que a essência do bom
jornalismo, como a apuração com responsabilidade, a checagem precisa de uma
informação e o texto correto, continua existindo e sempre existirá. O que
percebo que está mudando é o aumento da produção das notícias para consumo
instantâneo, reflexo do dinamismo das novas ferramentas tecnológicas. Não
podemos depender apenas destas notícias efêmeras, superficiais, descartáveis. O
desafio do jornalismo é criar espaços para a produção de conteúdo mais
aprofundado, analítico, que informe o leitor, claro, mas também o faça pensar,
desenvolvendo seu poder de crítica.
Muvuca: Se você tivesse que fazer uma matéria
sobre sua carreira jornalística, qual seria o lead?
Duda: Apesar de todos os perrengues da
carreira, o jornalista Duda Rangel descobriu que contar histórias é o que mais
ama fazer na vida.
Muvuca: Pra encerrar, supondo que o mundo não
acabe em dezembro, onde a comunicação vai parar?
Duda: A futurologia nunca foi o meu forte.
Prefiro deixar este trabalho para quem é do ramo e tem talento, como a mãe
Dinah. Meu palpite está na questão 6, em que falo do desafio do jornalismo
atual. Em relação ao jornalista, em especial, acredito que, para o profissional
ter sucesso, é preciso buscar cada vez mais conhecimento, estudar, estar
bem-informado, ser curioso, inquieto, interessado em pessoas e suas histórias. O jornalista competente vai sobreviver,
apesar de todas as dificuldades do mercado de trabalho e das previsões de fim
do mundo.
Entrevista: Gabriela Amorim
Foto: Acervo pessoal
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