terça-feira, 19 de março de 2013

// //

Em terra digital, quem fotografa é rei

Atualmente, somos expostos à uma infinidade de imagens que nos invadem a casa, pelo computador, pela televisão, pelo vídeo, pelos consoles de jogos eletrônicos. Imagens que nos rodeiam, atravessam, assediam, alucinam e nos fazem arregalar os olhos.

"Você aperta o botão e nós fazemos o resto”, era o slogan da Kodak que rodou o mundo, dando o pontapé inicial pra promover a popularização da fotografia na sociedade contemporânea - intensificada e facilitada com o surgimento das câmeras de plástico, da fotografia digital, posteriormente com a difusão da fotografia pelas redes e a presença de câmera nos celulares.

(Foto: Marcos Santos / sxc.hu)


Hoje, tão fácil quanto respirar é fotografar, (tecnicamente falando, claro). É só clicar, não tem mistério. E a cada dia o ato de fotografar vai ficando cada vez mais simples, nem mais pressionar é preciso; a fotografia em um touch, que cabe na palma da sua mão. Simples assim.

Com as mídias sociais bombando nesse mundo cada vez mais conectado, elas passam a ser potencializadoras, seja positivamente ou negativamente. Tanto pela facilidade em se propagar conteúdo quanto de alcance do público, que ali se encontra em enormes quantidades. Basta apenas um click pra que sua imagem rode o mundo e conquiste milhares de curtidas e retuítes.

A cada dois minutos, são registradas mais fotos do que a humanidade produziu durante todo o século XIX. Só o Facebook recebe todo dia, em média 300 milhões de fotos, segundo uma pesquisa realizada em 2011 pela 1000 Memories. Já é o maior serviço de armazenamento de imagens da internet e detentor do maior acervo fotográfico do mundo - além de registro em vídeo e áudio.

(Fonte: 1000memories.com)

A caçula das redes sociais, Instagram, contabiliza uma média diária de 40 milhões de fotos postadas por dia. Em 2011, alcançou a marca de 219 bilhões de fotos, uma quantidade tão imensa de dados que futuramente irão parar no gelo nórdico em meio a ursos polares, onde se instalarão novos servidores para melhor armazenamento desses arquivos. Chora, Flickr!

Por outro lado, com o desenvolvimento da tecnologia, a democratização do acesso a máquina fotográfica e a rápida disseminação de informações pela internet, fez com que quem usa da fotografia como profissão acabasse "facilmente antecedido por inúmeros amadores munidos de câmeras digitais e celulares que já terão colocado suas fotos na internet", afirma a jornalista e psicóloga Adriana Abujamra, "qualquer pessoa munida de um celular com câmera é um paparazzo em potencial", acrescenta.

Seria, pois, uma via de mão dupla: a produção desenfreada gera uma saturação, mas, por outro lado, se não fossem as facilidades técnicas, cenas raras e de forte impacto dificilmente seriam registradas e conhecidas pelo público.

FOTOGRAFIA HOJE, FOTOGRAFIA SEMPRE

Uma senhora de 80 anos acredita que fotos são feitas para lembrar o passado. Para uma adolescente de 15 anos, fotos são feitas pra compartilhar, pra curtir, pra retuitar ou até favoritar. Duas gerações mostram como a fotografia, em menos de um século, sofreu uma revolução única.

A fotografia se tornou muito mais que uma forma de guardar lembranças, passou a ser uma maneira de interação entre as pessoas e a funcionar como um certificado de presença, na tentativa de capturar o instante ou alguém; imortalizá-lo, "fazê-lo existir". Aquele velho ditado: "Uma imagem vale mais que mil palavras" parece ser o retrato da nossa era. “Palavras não são necessárias. Posto uma foto, mesmo sem legenda, e o outro curte. Basta”, afirma Jorge Forbes, médico psiquiatra e psicanalista lacaniano que estuda as novas formas de viver na pós-modernidade.

Um bebê, dizia o psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981), necessita do olhar dos pais para começar a existir. Essa dependência do olhar alheio permanece nos adultos, basta um passeio pelas redes sociais para se constatar que "ser é ser percebido", e de preferência curtido, seguido, compartilhado, retuitado e favoritado. A era digital está revolucionando o uso da fotografia, assim como o do texto. Estamos virando mais uma página. Ou, por outro lado, estamos dando mais um click.

Texto: Tarcízio Macêdo


0 muvucadas sobre isso

Postar um comentário